O irmão Gutierres Siqueira traçou o perfil das contradições da igreja no seu contexto local. Ele ainda ressalta que "Tais descrições servem para que nós, que amamos essa igreja, possamos entendê-la para melhorá-la". Ou seja, precisamos deixar de lado esse orgulho em dizer que somos a maior igreja do Brasil, e outras coisas, e encararmos a nossa atual realidade: Nossas igrejas estão definhando, a integridade de muitos dos nossos líderes também. Onde vamos parar?
No estudo teológico
Hoje existem vários assembleianos estudando teologia, mas eles dificilmente exercem cargos significativos em seus setores. Normalmente, ficam restritos nas Escolas Dominicais. Segundo o professor Paulo Romeiro, a maioria dos alunos de teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie são pentecostais, sendo em destaque assembleianos. Creio que o mesmo tem acontecido na Universidade Metodista. Tenho colegas assembleianos que estudam no Seminário Teológico Batista, por exemplo.
Infelizmente ainda não são visíveis os efeitos dessa nova geração de teólogos assembleianos na burocracia eclesiástica da denominação. A inserção no contexto eclesiástico é muitas vezes impedido pela estrutura que valoriza fidelidade irrestrita a liderança (leia-se adulação) e outros vícios como nepotismo e apadrinhamento.
É importante observar que os assembleianos seminaristas não costumam sustentar sua “confissão de fé” da igreja. Ainda mantendo a crença nos dons espirituais, eles se moldam pelo perfil da universidade. Se estudam com reformados, tornam-se reformados. Se estudam com neo-ortodoxos tornam-se neo-ortodoxos. Se estudam com conservadores, eles mantém o conservadorismo.
Nos “usos e costumes”
Quanto mais distante a congregação é das regiões centrais, mais tendência terá para legalismo em “usos e costumes”. Igrejas inseridas em bairros de classe média, média alta, costumam apresentar maior flexibilidade. É práxis na Assembleia de Deus as sedes serem mais “liberais” que suas congregações. O mesmo se repete em São Paulo. Algumas igrejas já não fazem restrições com o uso de jóias ou calças, enquanto outras ainda disciplinam por causa de futebol ou maquiagem.
Agora, mesmo pastores mais ultraconservadores não costumam usar uma linguagem incisiva contra os costumes que não concordam. Quando condenam, falam como em códigos, sem deixar claro o que aceitam ou não para a sua congregação. Diante disso, o líder pode condenar vários costumes “mais liberais”, mas certamente haverá inúmeras pessoas em sua igreja praticando ou aceitando tais coisas.
Quem vê de fora não terá dificuldades de chamar essa confusão de hipocrisia, mas o assembleiano parece acostumado com essas contradições.
Adolescentes e jovens
Na maioria das congregações, os adolescentes e jovens estão cada vez menos engajados em trabalhos da igreja. Aliás, seria injustiça falar somente em jovens menos engajados, pois a igreja de maneira geral é menos ativa, a começar dos obreiros. A Assembleia de Deus é cada vez menos jovem. Portanto, diferente das gerações passadas, hoje eles preferem ler “Crepúsculo”, ouvir “NX Zero”, passear no “Play Center” e se divertir no show do “Oficina G3”. Estão totalmente inseridos naquilo que era chamado de “mundo”.
Quase todos os “cultos de mocidade” são voltados para pregações que condenam esse estilo de vida “mundano”, mas pouco efeito tem produzido. Falam contra sempre, mas não produzem nada a favor. Os apelos são muitos, mas as adesões fracas.
Ministérios
A Assembleia de Deus é muitíssima fragmentada. São muitos e muitos ministérios. Esses novos campos surgem não por discordância doutrinária, mas em sua maioria por disputa de poder. Ou seja, o motivo da separação não são discordâncias saudáveis no campo bíblico, mas sim em saber no quem manda em quem. Pura carnalidade! Sim, alguns ministérios têm razões justas de existir, pois foram fundados segundo necessidade de evangelização em determinado distrito, que era então pouco assistido pelas igrejas já estabelecidas. Mas na maioria dos casos há uma disputa entre que tem mais público da mesma rua.
Os piores casos são em alguns estados nordestinos. Em Pernambuco, por exemplo, existe uma rivalidade entre os ministérios de Recife e Abreu e Lima. Em ambos os lados há insatisfação com a situação, mas nada de concreto é feito. Um detalhe interessante é que os dois ministérios estão sob gerência da CGADB. No Maranhão há relatos de disputas em o ministério Missão (CGADB) e Madureira (CONAMAD).
Tudo isso pode ser resumido em carnalidade pura, nada mais! É o mundanismo que os legalistas não combatem.
Liderança
Muitas e boas exceções existem, graças ao bom Deus, mas boa parte da liderança assembleiana deixa muito a desejar. Mal preparada, analfabeta de Bíblia e ainda por cima sempre com papo de coitadinho (logo porque Deus escolhe os fracos desse mundo, não é verdade?). Alguns pastores sequer têm uma Bíblia de Estudo. E não é por falta de dinheiro, é desinteresse mesmo. Vocês acham que quem compra uma S10 ou um FOX não pode comprar material para estudo bíblico e teológico? Pois é, isso existe!
Outra incoerência são questões salariais. Alguns ganham salários de médico, enquanto outros ganham pior do que um servente de pedreiro. E outros não ganham absolutamente nada. E pior. O mal remunerado sempre tem mais dificuldade de trabalhar, pois faltam recursos e capital humano.
Ah, sem falar naquelas brigas ridículas para a presidência da CGABD. Nesse caso, a carnalidade foi tanta que conseguiram se rebaixar no molde da política convencional. Isso em ambos os lados. Não havia santos e demônios. Era baixaria sem fim. Graças ao bom Deus que as eleições só voltam em 2013. Será por isso que os maias previram o fim do mundo para dezembro de 2012?
Música
A Assembleia de Deus é dona de um patrimônio para os evangélicos, que é a Harpa Cristã. Assim como os tradicionais brindaram a igreja evangélica brasileira com Salmos & Hinos e o Cantor Cristão, os assembleianos acrescentaram o toque pentecostal na melodia e letras. Ao mesmo tempo, há muito tempo existe uma proliferação de músicas horríveis nas Assembleias de Deus.
Os ditos “hinos” começaram com a temática de “fogo”. Era um pior do que o outro. Depois começaram os “hinos de exortação”. Tinha um que até cantava: “tele-leão, tele-leão... deixa culto por novela e diz que não tem nada não”. Ou seja, é pura piada com toques musicais. E aí começaram os “hinos” de autoajuda. Agora, tem até aquele que exalta a vingança com sabor de mel. Quanta decadência!
Enquanto isso, dificilmente alguém ouve música contemporânea de qualidade nas Assembleias de Deus, como Adhemar de Campos, por exemplo. Sobra “sabor de mel” e aquela melodia do Zaquel que ninguém aguenta mais ouvir. Ah, você fala isso no púlpito, mas entra em um ouvido e sai no outro. O problema é que as pessoas já estão viciadas em autoajuda de quinta, pois só ouvem isso nas pregações.
Pregações
Essa parte é delicada. Gritaria para provocar emocionalismo, excesso de testemunhos, falta de exposição do texto bíblico, superficialidade nas análises e falta de exegese são alguns dos muitos problemas com as pregações. Fora o problema com os pregadores, que soam personalismo e vaidade, além disso, alguns optam por roupas extravagantes enquanto condenam as irmãs rebeldes.
É desanimador visitar congressos assembleianos, pois em sua maioria quem prega são animadores de auditório. E o povo ainda repete a dose no ano seguinte.
Ora, apesar de tudo isso, há muita gente que acha a situação maravilhosa. Ainda se gabam de um avivamento que só eles veem. Lembram os profetas que diziam “paz e paz” quando não existia “paz”.
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