Desde algum tempo, tenho observado em muitos sermões na
igreja, pregadores verbalizaremo fato de serem “fiéis” a Deus, ao passo que
exortam aos seus ouvintes a também o serem. Aparentemente não há nada de
errado, mas analisando as entrelinhas do contexto, logo me surge a desconfiança
de que existe algo errado. Chegamos a pensar que o autor do discurso é a
própria personificação da santidade em forma humana, dada soberba dessa
autodeclaração. É muito mais sensato, que certas qualidades que venhamos a
possuir sejam testemunhadas pelos outros (Mt7.20), como fruto
de nossa vida cristã, e não usado como uma insígnia em nosso peitoral, nem o
próprio Jesus aceitou a alcunha de “bom”, quando viveu entre nós (Lc 18.19).
A fidelidade a Deus sempre aparece como a causa de terem
recebido esta ou aquela “bênção”, e que isto é condição para que o Senhor faça
isso ou aquilo na vida do ouvinte. Aí, logo fica explícito o espírito
mercantilista do homem, ao oferecer ao Senhor, como barganha, a sua
“fidelidade”, e em troca, o altíssimo tem a obrigação de lhe fazer mimos, em
forma de bênçãos, das mais diversas naturezas. Tal pensamento não encontra
apoio na Bíblia Sagrada. Ela mesma adverte que “As
misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas
misericórdias não têm fim.” (Lm 3.22). Em Tiago 5.11, o escritor bíblico deixa
claro que, a despeito da paciência e até mesmo fidelidade do personagem - Jó, a
motivação para que este alcançasse o fim ultimo de sua vida, foram tão somente
“porque o Senhor é muito misericordioso e
piedoso”. Ou seja, é por causa dEle, a razão é Ele, tudo começa e
termina nEle, Ele é o alfa e o ômega, o princípio e o fim. Isso porque o homem é pecador por natureza. Apóstolo Paulo vocifera
“Miserável homem que sou...” (Rm 7.24), Isaias (64.6) joga por terra todo nosso
amor próprio quando afirma que somos como o imundo, e que a nossos atos de
justiça são como trapo de imundícia. João, em sua primeira carta, declara que “Se dissermos que não temos pecado,
enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós.” (1 Jo 1.8). Quando
conseguimos alcançar um padrão aceitável diante do Criador, não devemos nos
esquecer de que “...Deus é o que opera em vós
tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade.” (Fp 2.13). O querer
e o efetuar consistem em duas ações diretas da volição humana, todavia são uma
resposta a inspiração divina (sua boa vontade), e não fruto de uma consciência
humana “fiel”.
Enfim, gostaria de ser, mas não
sou fiel a Deus, e me apropriando das palavras de Paulo eu confesso que estou o
tempo todo deixando de fazer o bem que deveria, antes pelo contrário, o mau que
condeno esse eu faço.Miserável homem que sou, quem me livrará do corpo desta
morte? A situação de conflito interior, a luta entre a velha natureza, e àquela
renovada pelo Senhor e controlada pelo Espírito é uma realidade bem presente em
mim. Mas dou graças a Deus que nos socorre:
“Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo,Que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador; Para que, sendo justificados pela sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna". (Tt 3.5-7)
Um comentário:
É um erro nosso , achar que por conta de nossos feitos , Deus nos concede bençãos e esse texto nos leva a uma reflexão , não merecemos nada e quão grande é a misericórdia de DEUS , pois todos os dias pecamos , e mesmo não sendo perfeito Ele prova o grande amor que tem por nós
Postar um comentário