sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O pentecostalismo, a privacidade e Jesus Cristo

O cronista português João Pereira Coutinho escreveu em artigo dizendo que “a privacidade é talvez a maior conquista da civilização judaico-cristã”. Mediante esta frase fiquei a meditar como as Escrituras nos incentiva para uma prática de espiritualidade recatada, privativa, mas que reflete em nosso caráter exercido no dia a dia. Na adoração, que é um ato de intimidade entre a criatura e o Criador, somos compelidos a trancar a porta. Infelizmente, como o caminho bíblico é desprezado em boa parte das igrejas pentecostais que fazem da adoração um verdadeiro circo, um espetáculo pessoal, com direito a todo tipo de apresentação.

Jesus disse: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” (Mt 6.6). Assim é adoração a Deus: um momento de intimidade privativa, redundância proposital para expressar a grandeza de elevar a Deus um louvor sincero, que não será alvo de apreciação de nenhum outro homem. Adoração não é espetáculo, não é palco. Adoração é quarto com a porta trancada. É por trás das cortinas como no templo veterotestamentário.

O privativo Jesus jamais falaria em línguas em um sermão quando não há quem interprete. Ora, como deixa bem claro o apóstolo Paulo no magistral texto de I Co 14 (um dos mais desprezados nas igrejas pentecostais) as línguas quando não interpretadas é intimidade entre o falante e Deus, que o ouve e o entende (14.3). Não é algo para compartilhar com dezenas de pessoas. Agora, quando interpretado deve ser compartilhado com os demais, pois já não é adoração, mas sim uma profecia (14.28)

Jesus era seguido por grande multidão e curava a todos, mas “advertindo-lhes, porém, que o não expusessem à publicidade” (Mt 12.16). Sim, Jesus não fazia espetáculo com seus milagres, não promovia shows de testemunhos e até proibia que os curados saíssem gritando pelas ruas que foram por Ele libertos. O recato de Cristo é impressionante, mas isto já tinha sido profetizado por Isaías:
Eis aqui o meu servo, a quem sustenho; o meu escolhido, em quem a minha alma se compraz; pus sobre ele o meu Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios. Não clamará, nem gritará, nem fará ouvir a sua voz na praça. Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega; em verdade, promulgará o direito. Não desanimará, nem se quebrará até que ponha na terra o direito; e as terras do mar aguardarão a sua doutrina. (42. 1-4, cf. Mt 12. 16-21)

Como é diferente dos nossos dias, em que cartazes e carros de som anunciam a pregação “do grande homem de Deus” que visitará a cidade ou o bairro. A simplicidade de Cristo não é modelo para esse pregadores que arrotam vaidade, orgulho e ostentação de grandeza. A publicidade era abominada pelo Senhor, pois Ele não se portava como um agente de serviço ou vendedor de coisa supérflua, mas sim anunciava a salvação.

Então, quando mais discreta for a sua e a minha espiritualidade, melhor será. 

Fonte: http://teologiapentecostal.blogspot.com

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